Admiro-me dos efeitos de um banho.
Começa no ato de despir-se
Tirar a roupa e, com ela,todo o peso do dia
ou da noite (mal) dormida,
dos sonhos pendurados ainda na lembrança
ou apenas na perturbação do esquecimento
Deixar a água lavar o corpo
levar da alma os agouros do pó
os restos sombrios de pesadelos noturnos
Que sensação de leveza essa de pingos d'água
tocando a pele em notas musicais
como se sofregamente
desmembrasse aquela sinfonia
como dedos tamborilando um piano
de muitas caudas
água caudalosa
tocando o tecido do tato
Que sentido de alívio é tomar um banho
Agora, molhada e nua
sinto-me fresca
como uma virgem pronta para ser amada
a espera da consumação
Mas o ato não se concretiza
então bailo errante pela casa
assim, como saída dentre as pernas de minha mãe:
Afrodite faz força, estremece e geme
enquanto eu nasço na solidão da casa
Chego à luz, bailarina
dons inatos da água, minha matéria
começamos a vida no banho da piscina alagada da placenta
líquido amniótico
e terminamos no banho da terra
no barro da terra
vermes antibióticos
anti vida
anti matéria
anti ilusão do eterno
Quantos efeitos os do banho
Banho de água no chuveiro...
Quem dera um banho de rio
cachoeira
água de cheiro
banho de mar
banho de lua
enquanto há a lua no oceano a se banhar
e o oceano, a virgem lua a deflorar,
sou sereia lunar
lunática